22 novembro 2006

Espetáculo Hermafrodito - 1990





Hermafrodito é a primeira experiência performática do teatro de essência (uma desessência: movimento que se desfaz da totalidade da origem e é intensidade para todos os lados), som-corpo, palavra-corpo, espaço-corpo. Um monólogo de 50 min, com cenário e figurino de Zoé Degani, peça musical de Valéria Venturine, Música do silêncio – Parte II – Água, concebido em 1990 e apresentado nas cidades de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre. Nesta experiência, o corpo é matéria física e sonora da palavra no espaço, o movimento rompe limites da forma e desaparece com o texto, as linguagens circulam no corpo e se excedem. Hermafrodito é o ser que nasce de uma versão mitológica [mito grego Hermaphródito, filho de Hermes e Afrodite], símbolo da hibridação em potencial das grandes polaridades que circundam os opostos, concentrada dentro de um só indivíduo. O público, no máximo cinqüenta pessoas, é inserido no espaço cênico, através de um túnel que expõe cinco painéis fotográficos em seqüência: imagens captadas pelo vídeo das etapas do desvelamento da personagem. Misturando suportes no espaço-tempo do ato, as fotos expõem o processo da metamorfose já vivido, assim como o pequeno livro oferecido à entrada: fragmentos de um diário sem data que circunscreve a experiência em torno da personagem. Hermafrodito apresenta-se com o corpo todo coberto por uma massa pastosa, feita de um material fibroso, tecido úmido, semelhante a uma cartilagem, ficando visíveis somente os olhos e a boca. Durante os 50 min, ele se mantém numa espécie de cela obscura, na qual o público está inserido de forma não ordenada em cadeiras ou mesmo no chão, diante do restrito espaço da personagem. No centro deste espaço há um colchão d’água onde Hermafrodito vive seu nascimento-desvelamento como uma metamorfose. A sala é iluminada por velas apoiadas em conchas e colheres de metal presas na parede. À frente do espaço onde permanece a personagem, há uma mangueira transparente pela qual corre ininterruptamente um líquido verde que perpassa bacias de alumínio contendo longas velas brancas acesas. Hermafrodito sendo o próprio ruído de si mesmo nascendo feito mito no rito, vai se decompondo no ato à medida que expõe o estado de efusão das dicotomias corpo-espírito, sujeito-objeto, presença-ausência. É círculo fechado, cobra mordendo a própria cauda. A palavra, segundo o léxico, pode terminar tanto com “a” como com “o”; no entanto, Hermafrodito, neste caso, é como verbo na primeira pessoa do singular: eu hermafrodito.

"somente quem profana os templos
conhece o sagrado
o sabor de nada ter nem ser"
Mariza Legemann

2 comentários:

Anônimo disse...

To aqui pra uma visita. Gostei do lugar. Saudades do fim de semana passaado e dos altos papos com vocês, beijos

Anônimo disse...

hermafrodito.demais.isso é buscar realidades,sair da prisão libertária das palavras pois o corpo é o lugar da história verdadeira de cada um, fora do corpo é a doença da mentira.gostaria de mais informação.
meu email é: ronaldobraga.s@gmail.com e o meu blog é: ronaldobragas.blogspot.com